O acolhimento dos profissionais de saúde às famílias que vivenciam a perda neonatal ou gestacional
Em 2019, foram registrados no mundo aproximadamente 2,5 milhões de óbitos fetais. No Brasil, neste mesmo ano, foram registrados 29 mil casos de óbitos fetais. Tal panorama permite afirmar como é relevante a ocorrência de tais óbitos, o que permite caracterizar essa situação como um grave problema de saúde pública.
Diante do óbito do bebê, o cuidado ofertado à mulher pelo profissional de saúde deve ser fundamentado no respeito, na empatia e na dignidade, no intuito de proporcionar uma assistência adequada, humanizada e que preze pela integralidade do da puérpera e do bebê. O profissional de saúde deve ter a percepção que a experiência da perda gestacional é complexa e desencadeia impactos psíquicos na mulher, uma vez que passará pelo processo de elaboração do luto de seu bebê e da própria maternidade.
Além da mulher, evidências científicas comprovam que o sofrimento do luto também afeta outros membros da família, pois todos constroem expectativas para a chegada do bebê no contexto familiar. Por isso, falar de acolhimento não é algo simples quando se trata do óbito de um filho, seja uma perda gestacional ou após o nascimento. A morte de um filho pode provocar um grande impacto na vida dos pais, seja no âmbito pessoal, conjugal, familiar ou social. Diante disso, é fundamental que os profissionais de saúde sejam capacitados para acolher essas famílias, no intuito de gerar conforto e acolhimento diante dessas situações.
Profissionais de saúde necessitam implementar boas práticas de acolhimento direcionado às famílias enlutadas e, para isso, devem buscar capacitação profissional quanto a esse tipo de assistência.
Em relação às diversas boas práticas de acolhimento direcionadas as perdas neonatais e gestacionais, pode-se citar algumas delas:
- Oferecer um atendimento religioso conforme o desejo e necessidade da família;
- Incentivar os pais que atribuam um nome para o bebê que partiu precocemente, explicando a eles a representação que tal ato pode gerar;
- Ao se referir ao bebê, usar o nome que foi dado pela família;
- Não permitir que as crenças pessoais/culturais possam interferir no processo de acolhimento à família diante do luto vivenciado;
- Oportunizar aos pais o encontro com o bebê que partiu precocemente, sem retirar deles o direito de tocar, beijar e segurar o bebê. É importante que os pais se sintam à vontade para isso e tenham o direito preservado de permanecerem ao lado do bebê pelo tempo que desejarem;
- Não emitir comentários inapropriados, como: “Logo vocês terão outro filho”; “Deus quis assim”. “Melhor ter sido agora do que mais para frente”, etc. Comentários dessa natureza podem provocar muito sofrimento para os pais do bebê. Por isso, é importante que os profissionais de saúde e demais pessoas da sociedade compreendam que o amor dos pais pelos seus filhos não se mede em semanas gestacionais.
Essas são apenas algumas das boas práticas de acolhimento diante do óbito do bebê que devem ser seguidas pelos profissionais da saúde e ampliadas às pessoas da sociedade.
Com a missão de despertar a sensibilização e contribuir com a conscientização e capacitação dos profissionais de saúde quanto às boas práticas de acolhimento às famílias que vivenciam a morte de seus bebês, foi construído um E-book gratuito para os profissionais de saúde, que aborda as ações e estratégias que os profissionais de saúde podem direcionar às mães e famílias que vivenciam a morte do bebê.
O E-book tem o potencial de agregar conhecimento para os profissionais de saúde que atuam na assistência ao cuidado materno-infantil, em prol de uma assistência humanizada, segura e de qualidade.
Imagens do E-book Gratuito “Como o profissional de saúde pode acolher a mãe e a família diante da morte de seu bebê?” (Prudêncio, P.S, 2021).
O material foi construído com uma linguagem acessível, abordando diversos aspectos importantes sobre o óbito neonatal e gestacional, contando com a participação especial de duas mães e profissionais, Perla Cristina Frangioti Machado e Natália Mundim Tôrres, que vivenciaram a partida precoce de suas filhas.
Convém destacar que ambas realizam um trabalho diferenciado junto às famílias que vivenciaram as perdas neonatais e gestacionais por meio de Grupos de Acolhimento, e que são: o Grupo Transformação de Araraquara (SP) e o grupo da Casa Manacá de Uberlândia (MG).
Referência original:
E-book intitulado “Como o profissional de saúde pode acolher a mãe e a família diante da morte de seu bebê?”, publicado em 2021, de autoria de Prudêncio, P.S. 1ª ed. Editora: Independente.
Artigo publicado originalmente em:
Ilha do Conhecimento
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